quinta-feira, 22 de maio de 2008


Se eu pudesse dormir...
Se eu pudesse partir com os marinheiros...
Aqui da cidade alta vejo o mar...
E sonho acordado com o velho mundo...
Gerações de pés e patas poliram minha cabeça de nego.




Lamentos e marchinhas de carnaval
não me faltam!
Falta-me a Baixa dos Sapateiros,
Falta-me o tabuão.
Falta passar o medo de passar.







Nada é para sempre! Mas não me queiram morto.
Digam que eu sou isso e aquilo, que sou passado, que sou simulacro e tra(d)ição.
Mas não façam perguntas.
Escutem as minhas paredes,
encostem a cabeça nas almofadas das portas coloniais, parem nas minhas esquinas,
subam e desçam ladeiras e escadarias, observem...
Tenho mais de sete vidas,
uma casa com sete morte nas costas e mais de 15 mistérios...

Eu não vim ao mundo a passeio!
Mas tanta gente passeia por mim...
Passeiam as putas expulsas do paraíso,
deambulam os ambulantes,
flanam os desocupados.
Passeiam por antigos quintais,
em toda porta um entra e sai
de sandálias.
às vezes, me constrange essa promíscua
cidade
que aqui deixa entrar por todo beco
gato e sapato.



A cidade passa por aqui.
E eu permaneço como território de todos e de ninguém...
Tropeço em bêbados, corro com os meninos...
Bebo a cerveja derramada para o santo, e escondo contas perdidas no meu calçamento.
De olhos abertos,
faço vista grossa e vendo a minha alma
para ser patrimônio de todo mundo.



Me espreitam as janelas, bisbilhotam e me guardam
subindo pelas paredes vestidas de cores berrantes,
como se eu já não as tivesse visto nuas e debotadas...
Fazem uma boa figura! Fazem pose para os turistas,
fazem falta...
Êta vida de fingimentos!
As janelas tem telhado de vidro: Escondem o que lhes vai por dentro.
Vivem, vivem muito bem porque vivem de "fachada".


Moram em mim, fragmentos muito antigos... De há muito já expandi meus limites, mas a muralha feita de areia, sangue e promessas de proteção ainda dorme erguida, ainda escuta, muda, as lamentações e sente os dedos e as mãos, os cheiros e o sabor do sal.