terça-feira, 8 de julho de 2008

FANTASMAGORIAS


Há paredes escondidas, há vozes do lado de dentro que só olhos de concha, dedos de areia, veias de barro e suores noturnos como os meus podem ver e ouvir...
Passagens secretas? Ah... poucos habitantes conhecem...
As fantasmagorias em trânsito, no "entre", encenam possibilidades, mas jamais chegam a atravessa-las.
Visitantes em festa, enfestam as ruas e as portas à dentro. Vigiam as esquinas com seus dedos em posição de clicar, à espera de uma visagem que pensam que virá saída das páginas de Jorge Amado. Esperam com tanta agitação mental que tomam outras gentes por aquelas que só em delírios etílicos virão juntar-se a eles.

7 CIDADES (IN)VISÍVEIS HABITAM O PELÔ


É o que ouço dizerem por aí...
Como Tróia, vivo de camadas , como se cidades e cidades de São Salvador da Bahia se erguessem por cima de mim, por sobre a minha pele de pedra, meus dedos de areia, meus olhos de concha... Por elas fui esmagado e também celebrado como Monumento da Humanidade.


domingo, 22 de junho de 2008

Três verbos e a Memória

Hoje é domingo, estou postando, mais um pouco da minha Memória... M E M Ó R I A... Será que a memória pode mesmo ser restaurada? Preservada tal como antes foi? Tombar, Preservar, Restaurar, três verbos, palavras na boca, letras no papel.

As Mortes e as mil Vidas do Pelourinho

Eu andava meio morto...de morte matada, não de morte morrida, como de uma doença grave...morria de morte matada por intoxicação, é, sufocação mesmo da garganta, pele que nem uma lixa, um horror! Mas a cura veio de víeis, erro médico, sabe? Pensaram que eu precisava desse remédio que só tem efeito tópico, uso externo, se é que me entendem... a vida antiga ficou lá dentro e a morte caiada por fora parecendo vida. Tudo ao contrário!
Me abriram mas sem bisturi, sem lâmina fina e destreza de cirurgião doutor. Foi assim meio "no tapa": Ele precisa de espaço, precisa ver gente passando, precisa de divertimento! Ah, é? Então joguemos fora o "lixo", arejemos os quintais, cimento neles! Cores! Você precisa de cores! Precisa de "roupa nova"...
Assim, me reviraram, me "repaginaram" pra eu vender saúde. Fiquei bonito "pra inglês ver".
Eu bem que queria mesmo ficar bonito, mas bonito pra mim, pra meus meninos, pra minha gente, pra meus vizinhos quererem também e a cidade viver com a cara bonita da gente.
Dizem que eu sou bom pra viver, pra morar e pra se divertir. Só queria que me perguntassem antes "como" pra eu puder ser tudo isso pra mim e pra minha gente...

quinta-feira, 22 de maio de 2008


Se eu pudesse dormir...
Se eu pudesse partir com os marinheiros...
Aqui da cidade alta vejo o mar...
E sonho acordado com o velho mundo...
Gerações de pés e patas poliram minha cabeça de nego.




Lamentos e marchinhas de carnaval
não me faltam!
Falta-me a Baixa dos Sapateiros,
Falta-me o tabuão.
Falta passar o medo de passar.







Nada é para sempre! Mas não me queiram morto.
Digam que eu sou isso e aquilo, que sou passado, que sou simulacro e tra(d)ição.
Mas não façam perguntas.
Escutem as minhas paredes,
encostem a cabeça nas almofadas das portas coloniais, parem nas minhas esquinas,
subam e desçam ladeiras e escadarias, observem...
Tenho mais de sete vidas,
uma casa com sete morte nas costas e mais de 15 mistérios...

Eu não vim ao mundo a passeio!
Mas tanta gente passeia por mim...
Passeiam as putas expulsas do paraíso,
deambulam os ambulantes,
flanam os desocupados.
Passeiam por antigos quintais,
em toda porta um entra e sai
de sandálias.
às vezes, me constrange essa promíscua
cidade
que aqui deixa entrar por todo beco
gato e sapato.



A cidade passa por aqui.
E eu permaneço como território de todos e de ninguém...
Tropeço em bêbados, corro com os meninos...
Bebo a cerveja derramada para o santo, e escondo contas perdidas no meu calçamento.
De olhos abertos,
faço vista grossa e vendo a minha alma
para ser patrimônio de todo mundo.



Me espreitam as janelas, bisbilhotam e me guardam
subindo pelas paredes vestidas de cores berrantes,
como se eu já não as tivesse visto nuas e debotadas...
Fazem uma boa figura! Fazem pose para os turistas,
fazem falta...
Êta vida de fingimentos!
As janelas tem telhado de vidro: Escondem o que lhes vai por dentro.
Vivem, vivem muito bem porque vivem de "fachada".


Moram em mim, fragmentos muito antigos... De há muito já expandi meus limites, mas a muralha feita de areia, sangue e promessas de proteção ainda dorme erguida, ainda escuta, muda, as lamentações e sente os dedos e as mãos, os cheiros e o sabor do sal.